segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Breve História da Humanidade

O macaco desce da árvore porque estava com os membros dormentes e a vegetação, vulgo erva, era rasteira. Isso permitiu que levantasse a cabeça e já podia observar o horizonte, para sonhar...Ganha erecção, coloca-se a caminho e o seu polegar oponível pede boleia a outros hominídeos, começa a juntar calhaus , inventa o fogo, aumenta o cérebro, tem mais energia, consome mais calorias , e o running é inventado. Sapiens...Eis Homens e Mulheres que se espalham pelos cinco Continentes, inclusive a América pelo estreito de Bering...Vem uma era glaciar e depois o degelo ...e a América nem sabia que tinha nome, mas já tinha identidade, separa-se dos outros Continentes...Frio ,os homens não tinham , já tinham levado o fogo ...que já ardia e não se via, face à reprodução da espécie, ficando por saber , até aos dias de hoje, se o sexo era um efeito colateral do amor ou amor um efeito colateral do sexo...Fértil, era o Crescente, onde agora as religiões fazem guerra em nome do amor de um Deus monoteísta, mas naquela altura as sementes da natureza, permitiram a agricultura e o homem fixou-se . Surgem as cidades e depois as civilizações, a maior, a de um imperador da antiga China, mas bem perto em área fica a Persa, a Romana e Alexandre, o Grande , sozinho, bate recordes no running... Mais calorias foram gastas, porque os excedentes tinham que ser trocados com outras partes do globo...Continua o running e surge o comércio...Para ir mais rápido e mais longe, o homem domestica o cavalo...A força de trabalho é cada vez maior , mas para ser optimizada, inventam-se ideologias e retira-se do carvão, um vapor ...e tudo acelera ...E com o motor de explosão , o runninng é automotorizado...E já somos quase um bilião...Mas o mundo precisa de vencer as trevas da noite, eis que a electricidade surge e com ela novas máquinas...E o mundo pula e avança....E de repente, o running termina ...Sentados num computador a qualquer lado se pode ir e fazer o que se apetece, mesmo que permanentemente monitorizados e vigiados , extinguindo-se a espécie, pela necessidade de conforto , comodismo ou letargia cibernética....Sete biliões que querem viver todos da mesma maneira , obedecendo a uma lógica global...e se um dia esse acontecer , outro Planeta surgirá...mas sem nós, que paramos de correr...em busca do nosso semelhante ...

sábado, 7 de setembro de 2013

Vindima...

"...Descer à Ribeira é uma aventura da Montanha desde que há videiras no mundo. Vai-se à festa pagã da colheita dos cachos com a seiva da mocidade a florir ou com a secura da velhice a reverdecer. A serra não dá vinho maduro, doce e cor de topázio, que embriague os sentidos e ponha nos olhos a luz doutros céus. A brancura mansa do leite das ovelhas enche a alma de candura morna e o corpo de uma força virginal e conformada. E em Setembro parece brotar em cada natureza o desejo irreprimível de transpor o insosso horizonte rotineiro..." in Vindima de Migue Torga

sábado, 24 de agosto de 2013

(...)

 
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Notas Contemporâneas- I-

 

      Método de lavagem cerebral aplicado a cidadãos distraídos: Inundam-se os noticiários dos canais generalistas com genealogias da tragédia , fomentam-se o medo, a miséria, a insegurança e a precariedade. Logo , a seguir dois blocos de enlatados de publicidade em que se promovem sensações de segurança, bem – estar e prazer , num mundo virtualmente perfeito. Ou seja, de forma subliminar, na comunicação social e nas redes socais, quem não gastar dinheiro não é feliz. Ora, no centro da campanha, as grande corporações financeiras , que necessitam de alimentar a sua máquina lucrativa. Outros expediente passam pela compra do Legislador Nacional e Europeu e pela venda dos votos dos eleitores , que podem ser trocados por vales de desconto na futura privatização dos bens essenciais: nos próximos 10 a 50 anos: água, por exemplo. Já não serão os bens supérfluos transaccionados, sem regras, desde a liberalização do comércio mundial . Serão os bens essenciais que darão sempre lucro, porque toda a gente necessita de comer e beber. Por isso, o mais perigoso equívoco é pensar que a Civilização Humana evoluiu... Um lento regresso às origens e aos instintos mais básicos está em marcha…Eis a tirania soft!...Com todo o sequestro do pensamento e da reflexão, do ser e do tempo…Por isso, para férias , reler Shakespeare, Dante, Orwell e Huxley . Porque a cultura é a mais bela das formas de resistência!…Porque a pior forma de servidão é poder ser livre e nada fazer para isso, vivendo nos jogos de luz e sombras das redes sociais , que no fundo são anti-sociais: separação como união... onde eficiência e reputação"mainstream" substituem a consciência e os valores...Por isso, o Anjo Exterminador de Bunuel ou Esta Terra é Minha de Renoir são filmes obrigatórios para perceber a flacidez axiológica e psicológica a a que chegou um Povo e uma Nação, um Continente e um Mundo demasiado formatado por lugares comuns e de enorme preguiça existencial...

Douro...

 
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(...)

 
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segunda-feira, 13 de maio de 2013

SE OS LUSÍADAS FOSSEM ESCRITOS NO SÉCULO XXI...

( Todos os Direitos de Autor Reservados)

CANTO I
1
As taxas e os impostos assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por  orçamentos nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Dívida,
Em perigos e guerras ignorados,
Mais do que prometia a culpa humana,
E entre gente remota enterraram
Novo Reino, que tanto ignoraram;
 
2
 
E também as receitas  gloriosas
Daqueles impunes, que foram dilatando
A  impiedade,  a bolsa  e as terras viciosas
De Europa, da América  e de Ásia vieram para devastar;
E aqueles, que por obras medíocres
Se vão da lei da morte agrilhoando;
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar a incompetência e a manha.
 
3
 
Cessem do condenado  Grego e do Troiano
Os naufrágios  grandes que fizeram;
Cale-se  José  e outros tais...
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito humilhado Lusitano,
A quem  Cowboy e  Frey  escarnecem :
Cesse tudo o que a Musa antígua canta,
Que outro empréstimo  mais alto se alevanta.
 
4
E vós, Portugueses, pois criado
Tendes em mim um novo  trovador ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio tristemente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene
Que não tenham  medo à troikiene
 
5
 
Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublimes versos cabem  em tabela de preços
 
6
E vós, ó  traiçoeira e temida segurança,
Da Lusitana  liberdade , perdida ficará…
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena produtividade;
Vós, ó novo temor da banca lança,
Maravilha fatal da nossa idade,
Dada ao mundo por Cifrão, que todo o mande,
Para do mundo a cifrão dar parte grande;
 
7
 
Vós, crua e nova crise financeira
De uma árvore de  notas mais amada
Que nenhuma nascida no Ocidente,
Cesárea ou Cristianíssima chamada;
(Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitória já passada,
Na qual vos deu por armas, e deixou o euro
As que Ele para si na Cruz tomou)
 

quinta-feira, 11 de abril de 2013

TABACARIA ....E A AUSTERIDADE...

 

( Todos Direitos de Autor Reservados -Tabacaria na Austeridade)
 

Dedicada ao Sr Fernando , que sendo Pessoa, não sabia quem era…E estando bem morto, continua vivo…


 Não tenho nada.
 Nunca terei nada.
 Não posso querer tudo.
 À parte isso, tenho em mim todas as consolas do mundo.

 Tenho em mim a dupla personalidade...( do palhaço-rico e do palhaço-pobre).
 Porque o circo é o de sempre…e o pão, a carcaça bolorenta do tempo...


 Janelas do meu computador,
 Do meu computador de um dos milhões do mundo -que ninguém sabe quem é-
 (E se soubessem quem é, o que saberiam?),
 Dais para a evidência de uma rede cruzada constantemente por gente,
 Para uma rede acessível a todos os pensamentos,
 Virtual, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
 Com o mistério das finanças por baixo dos mercados e dos especuladores,
 Com o rating a pôr ranhos nas paredes e cabelos brancos nos homens,
 Com a irracionalidade a conduzir a besta para toda a carga , pelo poço dos sem vintém.


Estou hoje falido, como se soubesse a mentira.
Estou hoje confuso, como se estivesse para viver,
E não tivesse mais paciência com os mercados
Senão uma despedida, tornando-se este País de faz de conta, este lado da rede.
A fileira de carruagens de um comboio para o abismo e uma partida adiada…


De dentro do meu estômago,
Cansado de levar murros com tanta ranger de queixos e palavas vãs…


Estou hoje lúcido, como quem julgou pensar, perdeu e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a deslealdade que devo
Aos governantes inócuos, do outro lado da rede, como coisa irreal por dentro,
E à sensação de que tudo é pesadelo, como coisa real por fora.


 Acertei em tudo.
 Como não fiz propósito nenhum, talvez nada fosse tudo.
 A aprendizagem de previsões que me deram,
 Desci dela pela janela das traseiras da tipografia.
 Fui até ao Terreiro do Paço com grandes propósitos.
 Mas lá encontrei só ervas daninhas e figueiras estéreis,
 E quando havia gente era igual à outra.
 Saio da janela, sento-me numa cadeira, a do poder. Em que hei de pensar?


 Em nada,
 As cadeiras do poder são cadeiras de condenados à morte,
 Que esvaziam todo o pensamento…


 Que sei eu do que terei, eu que não sei o que tenho?
 Tenho o que penso? Mas tenho tanta coisa emprestada!
 E há tantos que pensam ter a mesma coisa que não podem ter tanto!
 Asno? Neste momento
 Cem mil asnos se concebem em sonhos europeus desvanecidos, como eu,
 E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
 Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.


 Nem Hércules limpará o rabo dos Bois de Augias,
 Nem Ulisses voltará a Europa…
 Sim, creio em mim, mais que no outro …



Em todos os governos há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma dúvida, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas águas – furtadas ( verdadeiramente furtadas e não roubadas)   do mundo,
Não estão nesta hora génios de pacotilha corporativista conspirando?
Quantas manipulações altas e nobres e lúcidas
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas
E quem sabe se realizáveis,
Verão a luz do sol real e acharão ouvidos de gente que quer ouvir mentiras reconfortantes a verdades inconvenientes?
O mundo é para quem nasce para o abandonar
E não para quem o conquista mesmo sem razão



 Tenho sonhado mais que o que D. Sebastião fez.
 Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Barrabás,
 Tenho feito análises em segredo que nenhum Marx ousou escrever.
 Mas sou, e talvez serei sempre, o das águas-furtadas,
 Ainda que não more nela;
 (Porque fui despejado)



Serei sempre o que não se auto-publicitou  para aquilo;
Serei sempre só o que tinha cêntimos;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta- e nem sequer era uma caixa de multibanco-



 E cantou a cantiga do finito numa capoeira de representantes…
 E ouviu a voz do Presidente num poço sem fundo.
 Crer em mim? Não, nem em nada.
 Derrame-me a Finança sobre a cabeça ardente
 O seu juro, a sua usura, o levantamento que iça o depósito,
 E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
 Escravos viscerais das areias movediças,
 Protestamos contra todo o mundo antes de nos deitar na cama;
 Mas adormecemos, acordados, e ele é reconfortante,
 Levantamo-nos e ele é sadomasoquista de algibeira,
 Saímos de frente do computador e ele é a terra inteira,
 Mais o sistema financeiro, a Via Láctea e o Indefinido.


(Come perceves, pequena;
 Come perceves!
 Olha que não há mais metafísica no mundo senão perceves.
 Olha que as religiões todas não ensinam mais que peixaria.
 Come, pequena suja, come!
 Pudesse eu comer perceves com a mesma verdade com que comes!
 Mas eu penso e, ao tirar o papel de embrulho, que é de folha de prata,
 Deito tudo para a pia, como tenho deitado a poupança.)


 Mas ao menos fica da amargura do que nunca terei
 A caligrafia rápida destas reais ficções,
 Pórtico partido para o possível.
 Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo com lágrimas de cera,
 Fútil ao menos no gesto largo com que atiro
 A roupa alugada que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
 E fico em casa sem camisa.


(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
 Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
 Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
 Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
 Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
 Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
 Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
 Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
 Meu coração é um balde despejado.
 Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
 A mim mesmo e não encontro nada.
 Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
 Vejo as lojas falidas, vejo os passeios esburacados, vejo os carros estacionados sem gasóleo,
 Vejo os entes vivos despidos que se cruzam,
 Vejo os cães sarnentos que também existem,
 E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
 E tudo isto é estrangeiro, como tudo, como a troika.)


 Vivi, estudei, amei e até investi na bolsa,
 E hoje sou um mendigo de espírito.
 Olho a cada um os panos branqueados da justiça, as chagas da política e a mentira social,
 E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
 ( Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
 Talvez tenhas existido apenas, como um cidadão a quem cortam o rabo
 E que é rabo para aquém do cidadão, remexidamente.


Tive o que não podia ter
 E o que podia ter com , honestidade, não o tive.
O dominó em que me vi , não me deitou abaixo, como última peça de um jogo viciado.
Conheceram-me logo por quem era , desmenti e não fui preso.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Tinha rejuvenescido.
Estava embriagado pela arrogância e estupidez, adaptei-me à nova máscara , vesti o   melhor fato e dormi na suite presidencial
Como um cão  tolerado pela gerência externa
 Por ser inofensivo
 E vou escrever esta história para provar que nunca me engano.


Essência atónita dos minhas prosas cíclicas,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
 
Calcando aos pés a consciência de não ter consciência alguma.
Ou adormece-la como uma puta, fumando a espuma dos dias…
Ou como um tapete em que um mago louco se enrola.
Ou um capacho que os cambistas roubaram e ia valendo o que lhes apetecesse…



Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
 Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
 E com o desconforto da alma mal-entendendo.


Porque sabia das minhas habilidades e calou-se
Porque lhe devo um pacto de sangue…



Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei as prosas políticas.
A certa altura morrerá a tabuleta também, as prosas também.
Depois de certa altura morrerá a rede onde esteve a tabuleta dos preços,
E a língua em que foram escritos as prosas.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como prosas e vivendo por baixo de coisas como tabuletas com preços,



 Sempre uma coisa defronte da outra,
 Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
 Sempre o impossível tão estúpido como o real,
 Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
 Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.


Mas um homem entrou na Tabacaria (para pagar o tabaco fiado?)
 E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
 Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
 E vou tencionar escrever estas fraeses em que digo o contrário.


 Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
 E saboreio no cigarro a libertação de todos as dívidas.
 Sigo o fumo como uma rota própria,
 E gozo, num momento sensitivo e incompetente,
 O aprisionamento a todas as especulações
 E a consciência de que as flutuações na bolsa é uma consequência de estar mal disposto.


Depois deito-me para trás na cadeira
 E continuo fumando.
 Enquanto a bolsa mo conceder, continuarei fumando.


(Se eu casasse com a filha do meu banqueiro
 Talvez fosse feliz.)
 Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
 O homem saiu da Tabacaria (metendo o dote… na algibeira.. das cuecas sujas?).
 Ah, conheço-o; é o Esteves da Tabacaria.
 (O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
 Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
 Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
 Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.


           Portugal...em Abril ...ano 2013














 
 
 










 



 

domingo, 13 de janeiro de 2013

MONA LISA E AS REDES SOCIAIS

     O que une a Mona Lisa ( 1510-1515) de Leonardo da Vinci ( 1452 -1519) ao Facebook?...Tudo e nada...Ambos os "ícones" são objecto de discussões sobre a identidade da personagem. Personagens, e não pessoas, povoam o "livro do rosto"...A lógica do livro é ser observado e observar, tal como a Mona observa e é observada...De qualquer ângulo...De qualquer página do livro ...Só que Mona não precisa de” likes” na ilusória validação ou na busca de modelos de representação, afinidades ou estilos de vida ...Com a técnica do sfumato , Leonardo não imita a natureza , torna-a um produto da observação...No livro do rosto não somos seres naturais, mas objectos de observações...O sfumato com os seus contornos indefinidos, cores suaves e pastosas anulam as linhas e fazem confluir uma forma na outra e isso deixa uma impressão evasiva que deixa espaço para a imaginação...As mãos da Gioconda remetem para uma pose de meditação, algo que não acontece no livro do rosto com a instantaneidade,passa-se de página em página como estilhaçando o nosso presente, naquilo que o facebook ironicamente apelida de “home”...Lá pensamos que estamos em casa ...quando apenas somos impelidos pela curiosidade ...Foi essa que fez que o homem inventasse a roda....Procuramos a nossa cara na projecção de mil caras, que como dizia Shakespeare tem mil faces, esse rosto lunar...O livro do rosto não é um compêndio de almas, mas uma replicação de Giocondas que querendo ser tudo não são nada , que querendo ver tudo não vêem nada…Replicam-se estereótipos culturais difusos que assistam ao fruir do mundo suicidário…( como a Terra não vai ficar para ninguém, acabemos com ela…)…Ora, é no sorriso cínico e ingénuo da Mona Lisa que demonstramos a nossa inviabilidade na Terra…A Mona Lisa abre um universo de possibilidades e escolhemos a página do livro, que julgamos certa …Mas a vida ensina que não é no livro de rosto que está a salvação, mas a salvação está em rasgar todas as páginas do livro, escrever em branco sem sfumatos…Porque essa é a linguagem do coração…Eis que volta a Mona Lisa a sorrir…e o universo a ser um lugar mais plausível

MONA LISA E AS REDES SOCIAIS

 
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