terça-feira, 4 de novembro de 2014

Microconto n.º 12: Um desfile de encantar



         Inês Castanheira é branca como a neve. O corpo derrete-se ao espelho sempre que os olhos de Pedro Sottomayor a vestem. Hoje, neste dia quente de Novembro, é apresentada a colecção Outono-Primavera. As travessuras do tempo mudam o ritmo das estações. Pedro combina as texturas das folhas de outono com os padrões da fruta primaveril.

A Modelo observa os seus braços e pernas. Estendem-se ao sol como ramos floridos. A cabeça está adornada com uma maçã vermelha. Inês veste a inocência imprevista misturada com a decadência improvisada. Permanece imóvel junto ao espelho. Como uma deusa inacessível.

 As outras modelos não trazem nada vestido. Rodopiam em volta dela como o vento. Serpenteiam a maçã com estilo e languidez. Os flashes dos trovões iluminam a passerelle. Cada uma das modelos despe Inês e vestem-se com as suas roupas. Deixam-na só com a maçã carnuda…

Inês olha para um lado e vê o inferno. Olha para o outro e vê o paraíso. Trinca a maçã e cai ...O público levanta-se e aplaude em pé como  árvores perdidas no meio da floresta .

Pedro entra em cena vestido de noiva. Aproxima-se de Inês e leva-a nos seus braços de volta à terra prometida, onde tudo é frágil e efémero como belo e imortal…

© Jon  Bagt
 
 
 

domingo, 5 de outubro de 2014

Música...


Escrita...


Escrita Kafkiana
Bodleian Libray Oxford

O Leitor...



Oxford
Foto: JonBagt

O Homem-Rato ou Ecce Homo 3.0



O universo não é o um lugar de inteligibilidade. Um homem não é um ser mais civilizado que no passado. Tecnologicamente mais avançado, mas mentalmente continua primitivo. No entanto, uma mancha invisível avança sobre o inconsciente colectivo .

Os grande impérios da história forjaram o seu domínio com base em ferro e fogo.  Os escravos conheciam a sua condição. Mão –de-obra gratuita que erguia e mantinha os impérios.

Hoje, o escravo não conhece a sua condição. E se a conhece, não se liberta dela por medo ou conveniência. Não aguenta a censura social. Não suporta ouvir verdades incómodas, mas adora mentiras sociais e confortáveis. Faz lembrar o prisioneiro a quem o carcereiro deixa a chave na porta...

Assistimos à total banalização das relações humanas significantes. Ninguém cria laços, uma vez que a necessidade é substituída pela hiperligação da conexão permanente. A bulimia das sensações alimenta a insaciabilidade dos instintos e a simulação da ligação afectiva. É o tempo e o espaço físico que construem relações humanas densificantes e duradouras.

A máquina mediática ensaia nos novos escravos a perpetuação da sociedade do prazer. Não importam as pessoas. Importa o rodopio das sensações e das proezas do ego.

Em situações de pressão e de crise, aumenta o comportamento aditivo e de indiferença. A banalidade da imagem trágica incomoda, mas não muda o comportamento humano. É lá longe e virtualmente o homem pode ser senhor e não escravo.

As corporações secretas e financeiras ,desde os anos 30 do seculo XX ,aperceberam-se do elixir do poder eterno: Dar a ilusão de liberdade aos cidadãos e oferecendo bens de consumo à la carte. De vez em quando produzem uma crise, para testar se o homem continua a colocar no centro da sua felicidade  o dinheiro  , bens materiais ou tecnológicos. Quase como um estudo de mercado. E se mesmo assim não são convencidos , nada como implementar o marketing 3.0 e dar a ilusão que o produto trará status, abundância e amigos…

Mas domados no consumo e na comparação com o vizinho como é que o homem pode ter outros critérios de felicidade terrena? ...Se até , historicamente, as igrejas  e as religiões cobravam o seu tributo…

Eis a fraqueza humana a alimentar  a roda do mundo, eis o Homem -Rato no seu apogeu,  eis o Ecce Homo 3.0 num império invisível que parece  não ter fim…

 

domingo, 15 de junho de 2014

Microconto n.º11: Pai Herói


Carlos Leão limpava uma fotografia do bisavô. O velho Leão exibia uma bengala e um farto bigode. A mulher e os filhos, aos pés, olhavam-no com admiração. Carlos tinha dois filhos de tenra idade. A mulher, Adélia, era uma magistrada famosa que interrogava os mauzões durante horas a fio. Carlos limpava as pratas, alinhava os pratos para o jantar, deixava a comida em boiões e preparava o leite das crianças antes de sair de casa. Durante o dia corria de um lado para o outro: Era estafeta de uma empresa de pizzas e na hora de almoço vendia cautelas que andariam à roda no dia a seguir. Depois de pagar as contas e telefonar ao canalizador para consertar um cano arrebentado,  Carlos conduzia em direcção ao infantário para recolher os bebés.  Horas de estio ao trânsito e ao berradouro das crianças. Quando chegou a casa, ligou a televisão para ver o futebol. Tirava a t-shirt e com fita-cola prendia os biberões ao peito depilado. A bola rolava e as crianças chupavam. No intervalo, aproveitava para deitar as crianças e, finalmente, encostava-se para ver a segunda parte do jogo... Adélia chegava a casa com um loiro de um metro e noventa. “ É o meu arguido e vai cumprir pena comigo”, “ Ritz cumprimenta o Carlos…Hai!”…E no momento em que a bola entrava na baliza adversária, Carlos Leão olhava para a foto de família e prometia ao bisavô que iria deixar crescer o bigode…

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Roque Livreiro

   Jeremias Lévi era escritor de sucesso. Vendia livros como cerejas. Multiplicava a voz do narrador em múltiplas vozes na hora da venda. Adaptava o discurso a cada um dos seus leitores: Prometia cama às novas, o paraíso às velhas, fortuna aos descamisados, alma aos milionários e milagres aos descrentes.

    Com o lucro das vendas, Jeremias comprou vinte igrejas pelo País. Os santos foram substituídos por fotos de Lévi e os altares transformados em prateleiras com os seus livros. 

   Todas as semanas Jeremias debitava o que as pessoas queriam ouvir : mentiras almofadadas  sobre as quais se ajoelhavam para tomar a palavra…

    Até que um dia numa procissão de velas, distraídos com a eloquência de Jeremias,  os leitores deixaram arder os livros…

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segunda-feira, 5 de maio de 2014

Microconto n.º9: Vintage Existenz(II)


     Altino Teodósio não tinha GPS. Tinha um violão. Queria ir para outro lugar. Quando lá chegou, acabou por saber onde,afinal, tinha terminado a sua viagem. Tocou seu violão , dedilhou as mais inesperadas melodias e declamou os mais belos poemas. A multidão, em suaves solavancos, rodeava-o. Todos, em silêncio, guardaram para si ,o incomunicável .Anos mais tarde, num beco da mesma metrópole, Altino volta a tocar a mesma música .Uma velha senhora reconhece os acordes. Desliga o telemóvel. Ao longe, as sirenes e trombetas marcavam o ritmo da cidade. Senta-se ao lado de Altino Teodósio e saca de um cigarro. Em suaves pinceladas reconhecem, aquilo que os une : Um sentimento... O fumo da partilha vã esvai-se com o nevoeiro da cidade mimética... Mas o fogo, esse, era só deles…

terça-feira, 15 de abril de 2014

Microconto n.º 8: Em busca da inocência perdida



                Alberto é relojoeiro.  Conserta corações. Relógios e Corações  batem  . Nem sempre ao mesmo tempo. Um dia conhece Alice. Alberto  acerta o relógio de pulso. Alice traz flores para enfeitar o tempo .  Alberto olha Alice nos olhos . Alice dá as horas e Alberto oferece os minutos.As pétalas pulverizam os segundos .  São quatro horas menos dez minutos e o tempo escorre, pelos dedos dos amantes, a celebrar o que o coração não pode parar..

sábado, 22 de março de 2014

Microconto nº 7: O pescador enlatado.



 Luís Sargaço era pescador. O mar andava revolto.  A faina não dava mais que quatro bacalhaus, dois lumes, quatro passas e três voltas ao bilhar grande.  Na romaria de 30 de Fevereiro, em honra de São Cosme do afundanço,   o dia rendia mais que  todas as canastras da lota.  Lia era pequena como a  sardinha. Queria casar e carochinha foi história , que deu peixe pelas barbatanas .Vendia o bacalhau a quem lhe desse mais sal. Como Luis não se decidia, resolveu estender o bacalhau na corda da roupa e esperar pelo seu princpie das marés.

domingo, 16 de março de 2014

Microconto n.º 6: O Ouro do Bandido


                Rodolfo Dourado Latrino era mineiro. Rodolfo, com as unhas enegrecidas pelos acordes do deserto, escavava terrenos áridos. Buscava pepitas de ouro, com paciência mineira, para sustentar a sua tribo. Usava a urina para purificar as pepitas. Naquele dia de Solistício de Verão, não iria entregar o ouro ao capataz da mina. Ia comprar balas de prata..Dourado Latrino, , não tinha que comer, nem de beber , em quantidades que lhe permitissem cultivar a a lma. A água tinha sido privatizada e as sementes eram racionadas  . As poucas pepitas ,que tirava das entranhas da Terra , permitiam ter umas gotas de água e uns grãos de arroz para alimentar a mulher, a amante e o filho da puta fina, que usava um anel grosso no dedo do meio. O sol tórrido recortava as sombras do capataz. Um silvo ecoava nas chapas rubras do céu. Rodolfo dirigiu-se à casa do patrão.Colocou a bala de prata no revólver. Furou o ipad do capataz e esburacou-lhe o crânio. Os miolos derretidos pela cibercultura espalhavam-se pelo deserto. Rodolfo tomou o lugar do capataz e acendendo um charuto, vendia a sua terra ,a sua tribo, em troca de pepitas de ouro. ..

quarta-feira, 12 de março de 2014

Microconto n.º 5: Tabela de preços



    Na banca do mercado existe uma leiloeira. Vendem-se: Cenouras, coelhos, rabanetes, carne fumada de urso, patinhas de condor, vísceras de falcão, coentros e ovos de codorniz. Aceitam-se dólares, euros e rublos. Se não poder pagar, pode deixar a alma embrulhada numa folha de jornal. Passamos recibo e pode deduzir numa entrada para o céu. Se nada tiver , pode ficar no purgatório, que tratamos de fazer da sua vida ,um inferno. A justiça é o principal objectivo da nossa leiloeira. A balança pesa os ingredientes …Não coloque nada a mais , nem a menos nos dois pratos. Um quilo não é igual para todos. Porque nem tudo tem o seu peso, nem a medida certa. Numa leiloeira tudo muda e nada é certo. Por isso, é melhor esvaziar os bolsos antes que nós o façamos por si. 

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sábado, 1 de março de 2014

Microconto n.º 4: O Saber e as Máscaras



    Sofia Arlete pintava os lábios, todos os dias, antes de sair de casa.  No seu topo de gama acelerava, pela linha, com os cabelos ao vento. Tirava uma fotografia com o instagram. Bebia um café imprevisto na montra de uma pastelaria francesa.  No seu i –pad , sabia tudo sobre o mundo à distância , só com  um dedo, por vezes,  cheio de creme . Sofia era dona de um jardim zoológico , onde espécies exóticas e ridículas, se pavoneavam . Naquele dia, Arlete e seus mariachis ornitológicos , tiravam fotos às jaulas para publicitar o seu negócio. Mostravam os animais , nas mais variadas poses, em estilos replicados e rematados com frases feitas. Todos os dias era carnaval  pelo jardim de Arlete.  Os macacos bebiam champagne e as araras molhavam o bico em caviar.   Já tarde, sobre um véu escuro, Sofia Arlete regressa a casa. A selva ficava para trás ,encerrada a sete chaves. Tira a peruca e a todo custo, retira a tinta dos lábios, as marcas do corpo. As da alma permaneciam. Eram impossíveis de apagar e insusceptíveis de ficar na lente de qualquer instagram.

 
Todos os Direitos de Autor Reservados
 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Microconto n.º 3: O Velho Rabugento


Elias Natavidade olhava , todos os dias ,para o tecto de sua casa. Via o céu azul, os pássaros a recortar as nuvens passageiras , o sol a esconder-se entre pingos de chuva e , ocasionalmente, um arco-íris enchia-lhe a alma.

Todos os dias , olhava o espelho, antes de sair de casa.Arranjava os poucos cabelos, limpava os óculos garrafais, fechava , à pressa, a braguilha e ,curvado, batia com a porta.

Manifestos , panfletos e ladainhas ideológicas misturavam-se com os produtos milagrosos contra a evasão capilar, em enorme vitrinas, polidas pelos cidadãos obedientes.

Elias, em passo acelerado, chega à uma das casas de “strip ideológico”. Mete-se numa cabine e, sem se mexer, pronuncia palavras contra o vizinho, o chefe da aldeia, a mulher do peixe, o carregador de pianos, o burguês imprevisto, a fingida cibernética e o cão do talhante. 

Volta para o lugar seguro , o seu sofá coberto de panos com galos e outras pantominices, de sua casa. Antes de regressar, compra o jornal, num acto irreflectido, e como não concordava nada com o que escreviam , usou-o para embrulhar duas romãs, que saltavam das árvores , no Jardim da Liberdade.

Fechou a porta de sua casa. Pousou as romãs junto dos óculos esquecidos.Encerrou-se no seu mundo e ao olhar para o pé direito de sua casa, percebeu que tinha telhados de vidro.

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sábado, 22 de fevereiro de 2014

Microconto N.º2: Vintage Existenz




     Tadeu Izubiarco não tinha telemóvel. Não tinha computador. Não tinha internet. Naquele dia, de um enjoado  Fevereiro ,recebia um cartão de um velho amigo, que tinha emigrado para a casa ao lado, na rua de sempre. O cartão trazia um número de telemóvel -991517634-um endereço eletrónico e uma morada de uma loja de informática.


   Tadeu retirou um papel , uma folha e escreveu, com uma caligrafia pausada, ao amigo. Uniu os nove números que tinha no cartão: Nove pessoas passam à tua entrada todos os dias- O padeiro, o leiteiro, o ardina, o cobrador de impostos, o jardineiro, o motorista do  trinta e sete , o filho da vizinha, a vizinha e o homem que carrega o lixo-. Há nove meses que não te vejo. Há um ano que deixastes o emprego. Há cinco que casastes com o filho do teu pastor. Há um ano que não sais para levar o amor à vizinha do sétimo esquerdo. Há sete anos que não jogas na lotaria. Há seis meses que não entras num templo. Há três anos que não reparas no teu País esburacado... Há quatro dias que não vejo a luz acesa na tua casa. Desconfio que adoecestes e ninguém te avisou.

    Selou a carta, escreveu a morada e entregou ao carteiro.

   Pelo menos, por um dia, mais uma pessoa levaria ao amigo de Tadeu, notícias de outro mundo...
(Todos os direitos de autor reservados)



segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Microconto N.º1 : Sessenta Quilómetros Hora

Leónidas Robometálico monitorizava, no centro de tráfego urbano, um ford vermelho. A fiesta agridoce começava. Leónidas conseguia ouvir as mentes dissonantes dos condutores; sempre à procura do elixir da felicidade eterna. Uma cacofonia imprecisa pintalgava harmónicas melodias. Eis o sistema de som das almas humanas!
As mentes não obedeciam aos corpos retalhados pelas emoções universais: o medo do desconhecido, a ânsia de amor eterno, o desejo da foda perfeita ou o lugar quente da morte certa.
Robometálico queria ter asas para voar para o sétimo círculo. Não era a colonização humana que receava, era a clonização que o impressionava. Sempre os mesmos lugares comuns, os mesmos rituais, as mesmas conversas, as mesmas rotundas para circundar, para não sair de sítio algum.
Entre um cigarro, a queimar-lhe as pontas dos dedos e uma cerveja abundante, Leónidas desligou a maquinaria do centro de vigilância. Os ratos humanóides, obcecados pela bulimia dos sentidos, continuavam a acelerar… Leónidas,   o herói do trânsito existencial , tinha um corpo para manter e uma alma para resgatar…
Num impulso eléctrico, desligou a luzes. Quando se preparava para sair, surge uma leoa de olhos faiscantes, curvas perigosas e dentes prontos para acção. Encostou-o à parede, para o revistar pelas infracções ao sentido da vida. Sentiu o seu sinal, entre as calças, a ficar vermelho. Quis entrar …Leónidas resistiu à velocidade do desejo. Acabou por ceder e  aumentar a rotação da insensatez. Fez ali a revisão, em cima da mesa, sem luz, sem nada…
A síntese dos corpos não apagava a dialéctica dos espíritos derretidos. A mulher desapareceu em direcção ao fim do mundo, onde não há placas de trânsito, nem fiesta que nunca acabe…
De súbito, ainda a apertar as calças, surge o chefe Leão da Areosa:
- Que vem a ser isto?..
- Estive a rezar, chefe…Vai uma passa?...
  Eis que o mundo torna-se, novamente, insanamente, o possível…

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Notas Analógicas em Ambiente Digital -II


 "O Século XXI será religioso ou pura e simplesmente não será."(André Malraux)

 
A disjunção da expressão permite que, a previsão de Malraux, seja sempre lógica. O que não é lógico é o extremismo de posições em defesa ou contra a religião. Uma única visão do mundo e de organização social só levam à intolerância, à barbárie e à destruição inata do Ser Humano, que tem necessidade de uma dimensão transcendente.

Mais que religioso, o Século XXI será espiritual. Os ciclos repetem-se na história , com pequenas variações. A seguir a um ciclo materialista e tecnológico virá o ciclo da espiritualidade e vice-versa. Se assim não for, como profetizava Malraux, estaremos a entrar no horizonte da insanidade e da via suicidária colectiva.

A religião deixou de ter um arco de magia e uma seta mitológica. O Humano, na sua perene e frágil dimensão , procura o alento quotidiano da alma.  Vejam-se as constantes frases, esquemas, imagens, desenhos, que os cibernautas colocam no espaço virtual como lidar com a vida.  Como se a vida tivesse um ensaio geral ou uma bússola , que indicasse o caminho , mas não a geologia do mesmo.

     Somos passageiros de um espaço, que não é nosso , de um tempo que não dominamos. Qualquer tentativa de interpretação, não dissolve o mistério que abarca, qualquer explicação do sentido da vida.

Foto: Jon Bagt

Notas Analógicas em Ambiente Digital- I



           É o processo que torna as coisas sublimes. O ritual, a forma, o toque e o indizível do momento.  Focados só no resultado , o Humano entra em regressão. Desloca-se para um tempo e para um espaço que ainda não existe, que quando se revelar, será presente . Após um passo vem outro. Esta ânsia de resultado  de uma geração iogurte ( se passa o prazo já não presta) torna as pessoas intolerantes e impacientes.  Todas opinam, todas querem ter razão, todas querem tudo para ontem…Inundados entre a tragédia da notícia e o mundo épico da imagem , da publicidade ( a maior máquina de modelação comportamental humana, porque subliminar) , o Humano torna-se igual na sua auto-referencial diferença. Eis o drama da globalização. Neste adormecimento da razão crítica, todos se banham no mesmo rio . Julgam dominá-lo, mas é ele que os conduz…


Foto: Jon Bagt


segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Sinais dos Tempos...

A estética e a ética como instrumentos de salvação individual contra a sociedade cibernética formatada e a procura desenfreada do lucro e da eficácia "perfomativa ",em que todos querem ser parecidos com os demais na busca de vidas perfeitas,que só existem na rede , mas que a maioria quer fazer crer que vive num paraíso, paradoxalmente semeado ,fisicamente, numa Europa deserta de ideias, vendida a" chinesices " e num Portugal amordaçado e espoliado, em que todos se controlam uns aos outros, em que a letargia invade uma civilização sentada...Que só reagirá quando a dor infligida ( George Orwell) for superior ao prazer e bem estar induzidos pela tecnologia ( e não tanto a farmacologia prevista por Aldous Huxley)...Preocupados com o espelho, a irracionalidade aumenta, adormece a razão, destrói a individualidade de cada um, abre caminho a uma doce tirania...A realidade é muito ampla e o cérebro humano capta uma infinitésima parte da mesma..Por isso, cada um inventa as suas histórias e representações da realidade para ordenar o caos...Nem que para isso , se viva na mais pura das ficções( cientificamente provado)...Porque percepcionar uma realidade , não é conhecê-la...Mas o espectáculo tem de continuar...E alguém , noutro tempo e noutro lugar, haverá deixar cair o pano desta peça de teatro, que é a vida, que nunca teve , nem nunca terá ensaio geral...

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Como o totalitarismo entra nas casas dos bons cidadãos e os anestesia...


 

George Orwell e Ray Bradbury  alertaram que os livros poderiam ser proibidos. Como não foram, nas sociedades ocidentais, pelo menos, ninguém os lê e os cidadãos utilizam o seu tempo na busca de informação instantânea na internet.  Como todos iriam notar  a censura da informação , que Orwell preconizava ,seria demasiado visível, nada como inundar os cidadãos de informação. O excesso de informação leva a que as pessoas se tornem acríticas, passivas e egocêntricas , e por isso, o excesso converteu-se em défice.

Estando, constantemente, em rede,  as pessoas buscam ser parecidas umas com as outras: colocam as mesmas imagens, não emitem opiniões  desagradáveis, promovem a hipocrisia cibernética , não interagem substancialmente , “alikendo-se”, procuram seguir as correntes dominantes na busca da fama, glória, dinheiro, sucesso e imagem , que a sociedade de  consumo promove, bem como  adoram as suas “ vacas sagradas”,  grandes lideres na promoção do ter em vez do ser, da visibilidade mediática , da validação da corporação e do corpo. Promove-se a eficácia e a performance, contra a axiologia e o relacionamento humano, densificamente relevante . 

Em Orwell, havia um big brohter. Em Huxley , todos controlavam todos pelo nivelamento de comportamentos, substituindo  o princípio da realidade pelo do prazer, criando uma sociedade estupidamente e artificialmente feliz, alienada , leviana e fútil.

Em Aldous Huxley , o prazer era uma arma de domínio . Em Orwell, a dor e a subversão da linguagem um instrumento de controle.

Os sistemas comunistas e fascistas ruíram porque foram demasiado orwellianos. Os sistemas capitalistas dominam o mundo porque o controle é feito por indução de camadas de bem –estar, sendo a tecnologia o catalisador de comportamentos, atitudes e padrões de vida;

Enquanto os cidadãos estão distraídos, o sistema capitalista e consumista  vai-lhes retirando energias vitais. Olhando para o umbigo, os cidadãos vão-se desintegrando,  no foro pessoal, social e relacional. O sistema vai gerindo os recursos e quando o exponencial crescimento da população mundial levar a que sementes e água sejam privatizados, os cidadãos vão sentir fome e sede. Serão obrigados a levantar-se das suas adições tecnológicas , lutar pela sobrevivência e perceber que nessa altura a sociedade orwelliana voltará . A história vai repetir-se …

Tudo porque enquanto o prazer induzido for superior à dor infligida, toda a transformação da História não passará pelo Povo , nem por qualquer mecanismo democrático…

Por isso a decadência é um lugar de exílio a que todos tentam fugir com a busca do prazer e bem-estar permanente , renegando a identidade, a  natureza irracional do homem e promovendo o arrepiante medo de existir… As massas , cada vez mais iguais, vivem nas suas Coreias e ninguém as avisa…Mas isso também não é para dizer aqui, que nem “ vaca sagrada” sou…

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

TABACARIA...NA AUSTERIDADE,,,



 
 

Dedicada ao Sr Fernando , que sendo Pessoa, não sabia quem era ou queria ser fútil e tributável, como todas as pessoas…E estando bem morto, continua vivo…


 Não tenho nada.
 Nunca terei nada.
 Não posso querer tudo.
 À parte isso, tenho em mim todas as consolas do mundo.

 Tenho em mim a dupla personalidade...( do palhaço-rico e do palhaço-pobre).
 Porque o circo é o de sempre…e o pão, a carcaça bolorenta do tempo...


 Janelas do meu computador,
 Do meu computador de um dos milhões do mundo -que ninguém sabe quem é-
 (E se soubessem quem é, o que saberiam?),
 Dais para a evidência de uma rede cruzada constantemente por gente,
 Para uma rede acessível a todos os pensamentos,
 Virtual, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
 Com o mistério das finanças por baixo dos mercados e dos especuladores,
 Com o rating a pôr ranhos nas paredes e cabelos brancos nos homens,
 Com a irracionalidade a conduzir a besta para toda a carga , pelo poço dos sem vintém.


Estou hoje falido, como se soubesse a mentira.
Estou hoje confuso, como se estivesse para viver,
E não tivesse mais paciência com os mercados
Senão uma despedida, tornando-se este País de faz de conta, este lado da rede.
A fileira de carruagens de um comboio para o abismo e uma partida adiada…


De dentro do meu estômago,
Cansado de levar murros com tanta ranger de queixos e palavas vãs…


Estou hoje lúcido, como quem julgou pensar, perdeu e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a deslealdade que devo
Aos governantes inócuos, do outro lado da rede, como coisa irreal por dentro,
E à sensação de que tudo é pesadelo, como coisa real por fora.


 Acertei em tudo.
 Como não fiz propósito nenhum, talvez nada fosse tudo.
 A aprendizagem de previsões que me deram,
 Desci dela pela janela das traseiras da tipografia.
 Fui até ao Terreiro do Paço com grandes propósitos.
 Mas lá encontrei só ervas daninhas e figueiras estéreis,
 E quando havia gente era igual à outra.
 Saio da janela, sento-me numa cadeira, a do poder. Em que hei de pensar?


 Em nada,
 As cadeiras do poder são cadeiras de condenados à morte,
 Que esvaziam todo o pensamento…


 Que sei eu do que terei, eu que não sei o que tenho?
 Tenho o que penso? Mas tenho tanta coisa emprestada!
 E há tantos que pensam ter a mesma coisa que não podem ter tanto!
 Asno? Neste momento
 Cem mil asnos se concebem em sonhos europeus desvanecidos, como eu,
 E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
 Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.


 Nem Hércules limpará o rabo dos Bois de Augias,
 Nem Ulisses voltará a Europa…
 Sim, creio em mim, mais que no outro …



Em todos os governos há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma dúvida, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas águas – furtadas ( verdadeiramente furtadas e não roubadas)   do mundo,
Não estão nesta hora génios de pacotilha corporativista conspirando?
Quantas manipulações altas e nobres e lúcidas
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas
E quem sabe se realizáveis,
Verão a luz do sol real e acharão ouvidos de gente que quer ouvir mentiras reconfortantes a verdades inconvenientes?
O mundo é para quem nasce para o abandonar
E não para quem o conquista mesmo sem razão



 Tenho sonhado mais que o que D. Sebastião fez.
 Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Barrabás,
 Tenho feito análises em segredo que nenhum Marx ousou escrever.
 Mas sou, e talvez serei sempre, o das águas-furtadas,
 Ainda que não more nela;
 (Porque fui despejado)



Serei sempre o que não se auto-publicitou  para aquilo;
Serei sempre só o que tinha cêntimos;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta- e nem sequer era uma caixa de multibanco-



 E cantou a cantiga do finito numa capoeira de representantes…
 E ouviu a voz do Presidente num poço sem fundo.
 Crer em mim? Não, nem em nada.
 Derrame-me a Finança sobre a cabeça ardente
 O seu juro, a sua usura, o levantamento que iça o depósito,
 E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
 Escravos viscerais das areias movediças,
 Protestamos contra todo o mundo antes de nos deitar na cama;
 Mas adormecemos, acordados, e ele é reconfortante,
 Levantamo-nos e ele é sadomasoquista de algibeira,
 Saímos de frente do computador e ele é a terra inteira,
 Mais o sistema financeiro, a Via Láctea e o Indefinido.


(Come perceves, pequena;
 Come perceves!
 Olha que não há mais metafísica no mundo senão perceves.
 Olha que as religiões todas não ensinam mais que peixaria.
 Come, pequena suja, come!
 Pudesse eu comer perceves com a mesma verdade com que comes!
 Mas eu penso e, ao tirar o papel de embrulho, que é de folha de prata,
 Deito tudo para a pia, como tenho deitado a poupança.)


 Mas ao menos fica da amargura do que nunca terei
 A caligrafia rápida destas reais ficções,
 Pórtico partido para o possível.
 Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo com lágrimas de cera,
 Fútil ao menos no gesto largo com que atiro
 A roupa alugada que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
 E fico em casa sem camisa.


(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
 Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
 Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
 Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
 Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
 Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
 Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
 Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
 Meu coração é um balde despejado.
 Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
 A mim mesmo e não encontro nada.
 Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
 Vejo as lojas falidas, vejo os passeios esburacados, vejo os carros estacionados sem gasóleo,
 Vejo os entes vivos despidos que se cruzam,
 Vejo os cães sarnentos que também existem,
 E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
 E tudo isto é estrangeiro, como tudo, como a troika.)


 Vivi, estudei, amei e até investi na bolsa,
 E hoje sou um mendigo de espírito.
 Olho a cada um os panos branqueados da justiça, as chagas da política e a mentira social,
 E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
 ( Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
 Talvez tenhas existido apenas, como um cidadão a quem cortam o rabo
 E que é rabo para aquém do cidadão, remexidamente.


Tive o que não podia ter
 E o que podia ter com , honestidade, não o tive.
O dominó em que me vi , não me deitou abaixo, como última peça de um jogo viciado.
Conheceram-me logo por quem era , desmenti e não fui preso.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Tinha rejuvenescido.
Estava embriagado pela arrogância e estupidez, adaptei-me à nova máscara , vesti o   melhor fato e dormi na suite presidencial
Como um cão  tolerado pela gerência externa
 Por ser inofensivo
 E vou escrever esta história para provar que nunca me engano.


Essência atónita dos minhas prosas cíclicas,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
 
Calcando aos pés a consciência de não ter consciência alguma.
Ou adormece-la como uma puta, fumando a espuma dos dias…
Ou como um tapete em que um mago louco se enrola.
Ou um capacho que os cambistas roubaram e ia valendo o que lhes apetecesse…



Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
 Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
 E com o desconforto da alma mal-entendendo.


Porque sabia das minhas habilidades e calou-se
Porque lhe devo um pacto de sangue…



Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei as prosas políticas.
A certa altura morrerá a tabuleta também, as prosas também.
Depois de certa altura morrerá a rede onde esteve a tabuleta dos preços,
E a língua em que foram escritos as prosas.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como prosas e vivendo por baixo de coisas como tabuletas com preços,



 Sempre uma coisa defronte da outra,
 Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
 Sempre o impossível tão estúpido como o real,
 Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
 Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.


Mas um homem entrou na Tabacaria (para pagar o tabaco fiado?)
 E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
 Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
 E vou tencionar escrever estas fraeses em que digo o contrário.


 Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
 E saboreio no cigarro a libertação de todos as dívidas.
 Sigo o fumo como uma rota própria,
 E gozo, num momento sensitivo e incompetente,
 O aprisionamento a todas as especulações
 E a consciência de que as flutuações na bolsa é uma consequência de estar mal disposto.


Depois deito-me para trás na cadeira
 E continuo fumando.
 Enquanto a bolsa mo conceder, continuarei fumando.


(Se eu casasse com a filha do meu banqueiro
 Talvez fosse feliz.)
 Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
 O homem saiu da Tabacaria (metendo o dote… na algibeira.. das cuecas sujas?).
 Ah, conheço-o; é o Esteves da Tabacaria.
 (O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
 Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
 Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
 Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.


        












 
 
 

E se os Lusíadas fossem escritos no século XXI e Camões tivesse cegado de mais um olho...


1
As taxas e os impostos assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por orçamentos nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Dívida,
Em perigos e guerras ignorados,
Mais do que prometia a culpa humana,
E entre gente remota enterraram
Novo Reino, que tanto ignoraram;

2

E também as receitas gloriosas
Daqueles impunes, que foram dilatando
A impiedade, a bolsa e as terras viciosas
De Europa, da América e de Ásia vieram para devastar;
E aqueles, que por obras medíocres
Se vão da lei da morte agrilhoando;
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar a incompetência e a manha.

3

Cessem do condenado Grego e do Troiano
Os naufrágios grandes que fizeram;
Cale-se José e outros tais...
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito humilhado Lusitano,
A quem Cowboy e Frey escarnecem :
Cesse tudo o que a Musa antígua canta,
Que outro empréstimo mais alto se alevanta.

4
E vós, Portugueses, pois criado
Tendes em mim um novo trovador ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio tristemente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene
Que não tenham medo à troikiene

5

Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublimes versos cabem em tabela de preços

6
E vós, ó traiçoeira e temida segurança,
Da Lusitana liberdade , perdida ficará…
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena produtividade;
Vós, ó novo temor da banca lança,
Maravilha fatal da nossa idade,
Dada ao mundo por Cifrão, que todo o mande,
Para do mundo a cifrão dar parte grande;

7

Vós, crua e nova crise financeira
De uma árvore de notas mais amada
Que nenhuma nascida no Ocidente,
Cesárea ou Cristianíssima chamada;
(Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitória já passada,
Na qual vos deu por armas, e deixou o euro
As que Ele para si na Cruz tomou)

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

CONTEMPORANEIDADES 1.3.14




Foto: Ansel Adams

Poema: Jon Bagt


Não é a implosão do átomo…

É a desintegração do humano…

Não é a fúria da natureza;

É não ter natureza nenhuma

Ó clones umbilicais com rostos oblíquos

 Ó corações dilacerados pelo fugidio

Ó almas vertidas em latas de tinta permanente…

Ansiosas por tirar cifrões do nariz…

Perdidos na replicação de lugares comuns…

Subliminarmente conduzidos pelo poder sem rosto,

Pela glória, pelo auto-elogio, pela fogueira das vaidades…

Cadáveres adiados que se tornam múmias deambulantes

Por portais sem portas…

Por  janelas viradas para dentro…

Abraçai a imperfeição como princípio da incerteza

Porque no fim do mundo…

Nada restará a não ser a pegada invisível

Da vossa incomunicabilidade…

 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

PASTAGENS



  As massas são como carneirinhos. Andam umas atrás das outras e dizem "mé-mé", mas na hora de irem à teta da cabra, ela dá-lhes um coice. São tosquiadas e a sua lã serve para fazer casacos, para os amigos das cabras: os bodes ( Excerto da História Não Oficial da Criação Humana, Jon Bagt)


sábado, 4 de janeiro de 2014

O "OBSOLENTO" PROGRAMADOR


 Reinaldo Tucamanov era um fiel seguidor da obsolescência programada. Como ditador camuflado , também queria aplicar a obsolescência ao humanos e não somente às máquinas, que Isaac Asimov descreveu. Sete biliões seria demais...Deste modo, o genocídio seria feito de modo lento, progressivo e invisível: controlava-se o acesso à agua e as sementes, que permitiram a sedentarização do homem, deixariam de ser livremente trocadas. O abismo é um produto da ganância e especulação de uma minoria e da distracção de uma maioria, que é escrava sem saber ou que permite a escravidão por vício, medo, tédio ou necessidade.  E quando o homem se afasta da natureza  semeia a sua destruição ....

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Arctic Monkeys?...


Asdrúbal Livianto bebia uma caipirinha , com muito gelo , na praia. A maré subiu  e a toalha naufragou.   Voltou ao Hotel . Abriu o frigorífico e meteu-se lá dentro. Continuou a ser um urso, mas nada que o impedisse de “polar”, de praia em praia , até ao deserto final,