Leónidas
Robometálico monitorizava, no centro de tráfego urbano, um ford vermelho. A fiesta agridoce começava. Leónidas
conseguia ouvir as mentes dissonantes dos condutores; sempre à procura do
elixir da felicidade eterna. Uma cacofonia imprecisa pintalgava harmónicas
melodias. Eis o sistema de som das almas humanas!
As mentes não
obedeciam aos corpos retalhados pelas emoções universais: o medo do
desconhecido, a ânsia de amor eterno, o desejo da foda perfeita ou o lugar
quente da morte certa.
Robometálico
queria ter asas para voar para o sétimo círculo. Não era a colonização humana
que receava, era a clonização que o
impressionava. Sempre os mesmos lugares comuns, os mesmos rituais, as mesmas
conversas, as mesmas rotundas para circundar, para não sair de sítio algum.
Entre um
cigarro, a queimar-lhe as pontas dos dedos e uma cerveja abundante, Leónidas
desligou a maquinaria do centro de vigilância. Os ratos humanóides, obcecados
pela bulimia dos sentidos, continuavam a acelerar… Leónidas, o herói do trânsito existencial , tinha um
corpo para manter e uma alma para resgatar…
Num impulso
eléctrico, desligou a luzes. Quando se preparava para sair, surge uma leoa de
olhos faiscantes, curvas perigosas e dentes prontos para acção. Encostou-o à
parede, para o revistar pelas infracções ao sentido da vida. Sentiu o seu sinal,
entre as calças, a ficar vermelho. Quis entrar …Leónidas resistiu à velocidade
do desejo. Acabou por ceder e aumentar a
rotação da insensatez. Fez ali a revisão, em cima da mesa, sem luz, sem nada…
A síntese dos
corpos não apagava a dialéctica dos espíritos derretidos. A mulher desapareceu
em direcção ao fim do mundo, onde não há placas de trânsito, nem fiesta que nunca acabe…
De súbito,
ainda a apertar as calças, surge o chefe Leão da Areosa:
- Que vem a
ser isto?..
- Estive a
rezar, chefe…Vai uma passa?...
Eis que o
mundo torna-se, novamente, insanamente, o possível…
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