sábado, 22 de março de 2014

Microconto nº 7: O pescador enlatado.



 Luís Sargaço era pescador. O mar andava revolto.  A faina não dava mais que quatro bacalhaus, dois lumes, quatro passas e três voltas ao bilhar grande.  Na romaria de 30 de Fevereiro, em honra de São Cosme do afundanço,   o dia rendia mais que  todas as canastras da lota.  Lia era pequena como a  sardinha. Queria casar e carochinha foi história , que deu peixe pelas barbatanas .Vendia o bacalhau a quem lhe desse mais sal. Como Luis não se decidia, resolveu estender o bacalhau na corda da roupa e esperar pelo seu princpie das marés.

domingo, 16 de março de 2014

Microconto n.º 6: O Ouro do Bandido


                Rodolfo Dourado Latrino era mineiro. Rodolfo, com as unhas enegrecidas pelos acordes do deserto, escavava terrenos áridos. Buscava pepitas de ouro, com paciência mineira, para sustentar a sua tribo. Usava a urina para purificar as pepitas. Naquele dia de Solistício de Verão, não iria entregar o ouro ao capataz da mina. Ia comprar balas de prata..Dourado Latrino, , não tinha que comer, nem de beber , em quantidades que lhe permitissem cultivar a a lma. A água tinha sido privatizada e as sementes eram racionadas  . As poucas pepitas ,que tirava das entranhas da Terra , permitiam ter umas gotas de água e uns grãos de arroz para alimentar a mulher, a amante e o filho da puta fina, que usava um anel grosso no dedo do meio. O sol tórrido recortava as sombras do capataz. Um silvo ecoava nas chapas rubras do céu. Rodolfo dirigiu-se à casa do patrão.Colocou a bala de prata no revólver. Furou o ipad do capataz e esburacou-lhe o crânio. Os miolos derretidos pela cibercultura espalhavam-se pelo deserto. Rodolfo tomou o lugar do capataz e acendendo um charuto, vendia a sua terra ,a sua tribo, em troca de pepitas de ouro. ..

quarta-feira, 12 de março de 2014

Microconto n.º 5: Tabela de preços



    Na banca do mercado existe uma leiloeira. Vendem-se: Cenouras, coelhos, rabanetes, carne fumada de urso, patinhas de condor, vísceras de falcão, coentros e ovos de codorniz. Aceitam-se dólares, euros e rublos. Se não poder pagar, pode deixar a alma embrulhada numa folha de jornal. Passamos recibo e pode deduzir numa entrada para o céu. Se nada tiver , pode ficar no purgatório, que tratamos de fazer da sua vida ,um inferno. A justiça é o principal objectivo da nossa leiloeira. A balança pesa os ingredientes …Não coloque nada a mais , nem a menos nos dois pratos. Um quilo não é igual para todos. Porque nem tudo tem o seu peso, nem a medida certa. Numa leiloeira tudo muda e nada é certo. Por isso, é melhor esvaziar os bolsos antes que nós o façamos por si. 

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sábado, 1 de março de 2014

Microconto n.º 4: O Saber e as Máscaras



    Sofia Arlete pintava os lábios, todos os dias, antes de sair de casa.  No seu topo de gama acelerava, pela linha, com os cabelos ao vento. Tirava uma fotografia com o instagram. Bebia um café imprevisto na montra de uma pastelaria francesa.  No seu i –pad , sabia tudo sobre o mundo à distância , só com  um dedo, por vezes,  cheio de creme . Sofia era dona de um jardim zoológico , onde espécies exóticas e ridículas, se pavoneavam . Naquele dia, Arlete e seus mariachis ornitológicos , tiravam fotos às jaulas para publicitar o seu negócio. Mostravam os animais , nas mais variadas poses, em estilos replicados e rematados com frases feitas. Todos os dias era carnaval  pelo jardim de Arlete.  Os macacos bebiam champagne e as araras molhavam o bico em caviar.   Já tarde, sobre um véu escuro, Sofia Arlete regressa a casa. A selva ficava para trás ,encerrada a sete chaves. Tira a peruca e a todo custo, retira a tinta dos lábios, as marcas do corpo. As da alma permaneciam. Eram impossíveis de apagar e insusceptíveis de ficar na lente de qualquer instagram.

 
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