sábado, 1 de março de 2014

Microconto n.º 4: O Saber e as Máscaras



    Sofia Arlete pintava os lábios, todos os dias, antes de sair de casa.  No seu topo de gama acelerava, pela linha, com os cabelos ao vento. Tirava uma fotografia com o instagram. Bebia um café imprevisto na montra de uma pastelaria francesa.  No seu i –pad , sabia tudo sobre o mundo à distância , só com  um dedo, por vezes,  cheio de creme . Sofia era dona de um jardim zoológico , onde espécies exóticas e ridículas, se pavoneavam . Naquele dia, Arlete e seus mariachis ornitológicos , tiravam fotos às jaulas para publicitar o seu negócio. Mostravam os animais , nas mais variadas poses, em estilos replicados e rematados com frases feitas. Todos os dias era carnaval  pelo jardim de Arlete.  Os macacos bebiam champagne e as araras molhavam o bico em caviar.   Já tarde, sobre um véu escuro, Sofia Arlete regressa a casa. A selva ficava para trás ,encerrada a sete chaves. Tira a peruca e a todo custo, retira a tinta dos lábios, as marcas do corpo. As da alma permaneciam. Eram impossíveis de apagar e insusceptíveis de ficar na lente de qualquer instagram.

 
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