quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

E se os Lusíadas fossem escritos no século XXI e Camões tivesse cegado de mais um olho...


1
As taxas e os impostos assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por orçamentos nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Dívida,
Em perigos e guerras ignorados,
Mais do que prometia a culpa humana,
E entre gente remota enterraram
Novo Reino, que tanto ignoraram;

2

E também as receitas gloriosas
Daqueles impunes, que foram dilatando
A impiedade, a bolsa e as terras viciosas
De Europa, da América e de Ásia vieram para devastar;
E aqueles, que por obras medíocres
Se vão da lei da morte agrilhoando;
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar a incompetência e a manha.

3

Cessem do condenado Grego e do Troiano
Os naufrágios grandes que fizeram;
Cale-se José e outros tais...
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito humilhado Lusitano,
A quem Cowboy e Frey escarnecem :
Cesse tudo o que a Musa antígua canta,
Que outro empréstimo mais alto se alevanta.

4
E vós, Portugueses, pois criado
Tendes em mim um novo trovador ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio tristemente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene
Que não tenham medo à troikiene

5

Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublimes versos cabem em tabela de preços

6
E vós, ó traiçoeira e temida segurança,
Da Lusitana liberdade , perdida ficará…
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena produtividade;
Vós, ó novo temor da banca lança,
Maravilha fatal da nossa idade,
Dada ao mundo por Cifrão, que todo o mande,
Para do mundo a cifrão dar parte grande;

7

Vós, crua e nova crise financeira
De uma árvore de notas mais amada
Que nenhuma nascida no Ocidente,
Cesárea ou Cristianíssima chamada;
(Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitória já passada,
Na qual vos deu por armas, e deixou o euro
As que Ele para si na Cruz tomou)

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